É sempre assim: no dia do médico e do professor a sociedade se lembra da importância dessas categorias, parabenizam, engrandecem o exercício profissional e até mencionam as dificuldades profissionais e só! No dia seguinte, a história de desvalorização do profissional médico nunca antes vista continua... A sociedade se esquece do médico outrora respeitado, que dedicou sua vida à formação profissional e talvez a mais nobre de todas as missões: salvar vidas e aliviar o sofrimento humano.
São anos de estudo para o vestibular, seis longos e penosos anos de graduação, muito estudo para ser aprovado em concurso de residência médica, pelo menos três anos de especialização, muito investimento pessoal e financeiro por toda a vida para se manter atualizado, para depois ser lançado no mercado de trabalho e se defrontar com demanda excessiva de pacientes que chegam aos serviços de saúde (até 850 atendimentos/dia numa UPA em período de epidemia de dengue, por exemplo); carga horária desumana (super-heróis médicos com até 23 plantões noturnos/mês); corrida incessante de um a outro local de trabalho (médicos maratonistas com 4, 5, 6 empregos); ter que decidir qual paciente terá o “privilégio” de ficar numa maca; “ter que engolir” que vagas nas UTIs privadas pagas pelo SUS quase nunca são ocupadas por pacientes do SUS; lutar contra assédio moral; trabalhar num eterno campo de concentração; submeter-se à informalidade arrasadora e humilhante, com contratos temporários celebrados através de telefone, criando a figura do Médico Descartável e Biodegradável; viver no fio da navalha sem segurança nos postos de trabalho, sendo ameaçados, desacatados. Estamos adoecendo mais e mais cedo, morrendo em vida, sem auto-estima.
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