domingo, 18 de outubro de 2009

18 de Outubro, Dia do Médico. Desabafo de quem tem que desafiar a ciência, o tempo e as políticas públicas para que haja um novo amanhã.



É sempre assim: no dia do médico e do professor a sociedade se lembra da importância dessas categorias, parabenizam, engrandecem o exercício profissional e até mencionam as dificuldades profissionais e só! No dia seguinte, a história de desvalorização do profissional médico nunca antes vista continua...  A sociedade se esquece do médico outrora respeitado, que dedicou sua vida à formação profissional e talvez a mais nobre de todas as missões: salvar vidas e aliviar o sofrimento humano.
São anos de estudo para o vestibular, seis longos e penosos anos de graduação, muito estudo para ser aprovado em concurso de residência médica, pelo menos três anos de especialização, muito investimento pessoal e financeiro por toda a vida para se manter atualizado, para depois ser lançado no mercado de trabalho e se defrontar com demanda excessiva de pacientes que chegam aos serviços de saúde (até 850 atendimentos/dia numa UPA em período de epidemia de dengue, por exemplo); carga horária desumana (super-heróis médicos com até 23 plantões noturnos/mês); corrida incessante de um a outro local de trabalho (médicos maratonistas com 4, 5, 6  empregos); ter que decidir qual paciente terá o “privilégio” de ficar numa maca; “ter que engolir” que vagas nas UTIs privadas pagas pelo SUS quase nunca são ocupadas por pacientes do SUS; lutar contra assédio moral; trabalhar num eterno campo de concentração; submeter-se à informalidade arrasadora e humilhante, com contratos temporários celebrados através de telefone, criando a figura do Médico Descartável e Biodegradável;  viver no fio da navalha sem segurança nos postos de trabalho, sendo ameaçados, desacatados. Estamos adoecendo mais e mais cedo, morrendo em vida, sem auto-estima.

Ainda assim, quando nos organizamos na luta pela valorização profissional e melhores condições de trabalho somos afrontados por todos os lados como mercenários e declarações do tipo “tudo de interesse próprio e pecuniário”. Infelizmente, no inconsciente coletivo a medicina ainda é tida como sacerdócio sob a ótica de que não podemos fazer greve ou paralisações como qualquer outra classe de trabalhadores e de que não podemos reivindicar por melhor remuneração. Somente nos é permitido lutar por melhoria das condições de trabalho, pois estas se refletem instantaneamente em melhoria para a população. Isso que a sociedade espera não é sacerdócio, é hipocrisia. Lutar pela valorização do médico, em especial, o médico do SUS é lutar, sim, também por melhor remuneração.  Afinal, saúde pública se faz com salários dignos e profissionais motivados, satisfeitos e com condições de trabalho adequadas, seguras e com o cumprimento dos deveres constitucionais (Artigos 37 e 196 CF).

 Portanto, não há o que se comemorar neste dia 18 de outubro. Temos que desafiar a ciência, o tempo e as políticas públicas para que haja um novo amanhã, fazendo  a diferença hoje.

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